15 agosto, 2008

A estréia do Limão!

Pra inaugurar o Blog (que eu espero que dure um pouco mais do que têm durado meus planos de vida), a dissecação do Limão! Fresquinho, recém-saído do pomar. ;)

LEMON TREE

Queria eu ter um poco de Salma, de cuidar, ou de Mira, de sensibilizar. A maestria dos limões... Os meus estaguinam, páram no tempo. Viram mausoléus, relicários. Vêm em pencas e me assaltam o sono e me despertam baqueando no solo, como os dela e, com o tempo, o tempo teve de me ensinar a voltar a dormir. Talvez, penso hoje, tenha aprendido. Mais do que talvez devesse, até.

Mas de fato aprendi. Aprendi sua beleza e suas cores, a vê-las, a expandir minha paleta. Aprendi mais cores aos meus quadros. Aprendi regá-los, colher e tirar o suco. Descobri sabores e sensações; a textura, o contra-senso do azedo, o ácido da casca e o barulhinho sutil do romper dos gomos... Sei hoje honrá-los, até! Tenho templos e igrejas a eles, dos mais belos. Tenho seus retratos emoldurados em todos os cantos e paredes do meu motor; acabei por fazê-los combustível e combustor, quase que a máquina em si. Julguei mesmo dominar a arte.

Me admira, ainda então, Salma e Mira, como se admira o mestre de um ofício onde ainda se engatinha. Eu, homem-limão, não ser metade próximo da fruta. Fiz dela tudo o que o tempo desafiou: pintei, grafei, cantei e admirei profundamente suas imagens estáticas nas paredes. Mas no fim os tenho assim: estáticos. Rego-lhes, colho e tiro o suco e bebo, mas tornam-se então estátuas, meros objetos de louvor. Quão cristão...

Nunca, argumente o tempo, contraí um músculo em defesa. Admirei-lhes, mas só. Os deixei estatizar. E isso, pasmo, contradiz tudo o que julguei ter aprendido! Não, não entendi os limões, apenas me desfiz. Com classe e pompa, mas desfiz. Com respeito sim - mas com um quase temerário. Nunca me opus que o tempo lhes tomasse a mão.

Falem-me então, Salma e Mira, sobre os seus limões, que ouço aprendiz. E venham a mim as próximas safras - podem vir, sem medo. Que o tempo já me tirou demais - vocês, não vou deixar que leve de mim.

Um comentário:

Unknown disse...

Desfazendo-se o limão se entrega como uma fênix até. Tudo para renascer. Que meus Hortelã e Alecrim tenham a coragem de sair do círculo girando girando, girando da gaiola. Que eles se espelhem em Salma e Mira.
ps: Sobre o post do ódio... enfim, alguém que tenha entendido, sem a hipocrisia do isso-faz-mal-à-saúde. Obrigadam.